15 de novembro de 2011

Reciclagem feita com imaginação

DMLU comemora aniversário da Coleta Seletiva e apoio de projetos independentes

Em sete de julho deste ano Porto Alegre comemorou a maioridade total da Coleta Seletiva. Através do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) recolhe a 21 anos resíduos recicláveis em todo o município, chegando a somar 100 t/dia. Parte deste material é encaminhado para as Unidades de Triagem (UTs), onde comunidades reciclam e transformam o descartado em arte gerando recursos para benefício pessoal e do meio-ambiente. A outra, que muitas vezes não chega a ter um destino tão feliz, serve como alavanca para jovens criativos como a banda Apanhador Só.

A iniciativa da coleta seletiva de lixo seco na Capital se deu no início da década de 1990 com uma experiência no bairro Bom Fim. “Convidamos a comunidade para separar o seu lixo doméstico descartando-o em dois recipientes diferentes. Em um, o lixo orgânico, que continuaria sendo disposto à coleta tradicional e em outro, o lixo seco, que passaria a ser recolhido especialmente uma vez por semana”, explica Jairo Armando, diretor da divisão de projetos sociais do DMLU.

O cenário também serviu, anos mais tarde, de inspiração para o quarteto que forma a Apanhador Só. Foi no Parque da Redenção daquele mesmo bairro que Alexandre Kumpinski (voz e guitarra), Felipe Zancanaro (guitarra), Fernão Agra (baixo) e Martin Estevez (bateria) fizeram uma das primeiras apresentações do projeto experimental Acústico-Sucateiro, ainda em 2010. Através de faca de cozinha com chave de fenda, vuvuzela, sino de recepção, caixa de fósforos, molho de chaves, violão e tecladinho de brinquedo e até uma bicicleta, rearranjaram os tons do seu primeiro álbum, brincando com a música de sucata. “A ideia surgiu por acaso durante um ensaio na garagem da minha casa. A Carina Levitan (amiga e agora percussionista de sucata da banda) foi nos visitar e acabamos experimentando tirar sons de objetos que estavam por ali”, conta Kumpinski.

A música reciclada, que não passava de uma brincadeira, acabou se tornando um projeto sério e hoje angaria um discurso antes escondido entre os ideais do grupo: “O formato acústico-sucateiro não surgiu necessariamente com um discurso ambiental, mas acaba tendo tudo a ver com sustentabilidade. Se eu posso usar uma panela como instrumento de percussão, por que não dar descarga com água coletada da chuva ou achar uma alternativa pra não precisar ir de carro pro trabalho?”, pergunta o vocalista, “De alguma forma, essas ideias se encontram no ponto em que se questiona o papel e o funcionamento das coisas que cercam nossas vidas”.

Na visão do DMLU a espontaneidade dos jovens serve como exemplo para os três “R’s” alicerces da instituição: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Assim como nas UTs em que o lixo seco é recebido, separado e preparado para ser levado para a reciclagem, a consciência da coletividade sustentável incentiva a comunidade que realiza o trabalho. Armando explica que o material reciclável muitas vezes é levado às indústrias que prestam o serviço pelos próprios trabalhadores dos galpões. “Cerca de 800 pessoas, em sua maioria mulheres, estão envolvidas na atividade”, conta adicionando o fato de o DMLU fornecer a matéria prima e mais R$ 2.500,00 mensais para as despesas de manutenção do local. “O rendimento de cada trabalhador é em média um salário mínimo, que pode melhorar na medida em que a quantidade de material recuperado aumenta e é vendido diretamente às indústrias”, completa.

Praticar a consciência ambiental é tarefa fácil quando utilizada com imaginação. Armando vê o Apanhador Só como um exemplo simples para contribuir com a diminuição de resíduos que talvez já tenham perdido a finalidade e possivelmente seriam abandonados em um aterro sanitário. Kumpinski lembra que além do Acústico-Sucateiro a banda também pratica o escambo: “Desenvolvemos um sistema de trocas pra reutilizar fitas K7. As pessoas podem trocar cinco fitas usadas por uma do Acústico-Sucateiro. Essas fitas vão ser transformadas em fitas do Acústico-Sucateiro e serão vendidas ou trocadas por outras fitas usadas, que também vão ser transformadas, e assim continua o ciclo. É uma forma simples de reciclar um material que provavelmente iria para o lixo daqui a pouco”.

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