Literatura digital conquista diferentes públicos e possibilita criação de novos meios
A tecnologia ultrapassa todos os limites e agora chega também na literatura. Desde o final dos anos 90 vê-se a crescente disseminação dos blogs, fóruns e fotologs, e a criação de sites de jornais que antes podiam ser lidos somente em papel. Entretanto, são os livros desta vez, que inovam e ganham uma nova forma: a digital.
Em uma busca rápida no Google pelo termo “ebook”, encontra-se em menos de 21 segundos mais de 83 milhões de sites relacionados, além das expressões: ebook celular, ebook grátis, baixar ebook, leitor ebook, entre outras. Embora parte dos sites seja em língua inglesa, o fenômeno da literatura digital está cada vez mais presente na vida dos brasileiros. Trata-se de livros vendidos e disseminados via internet, onde o leitor pode comprar e baixar, sem precisar se deslocar da sua casa. No site americano Amazon há obras sendo vendidas por U$9,90.
Jorge Carneiro, 25 anos, administrador e usuário da internet, não cria links nos favoritos do seu computador. Guarda todos na memória e acessa os sites diariamente. Seu interesse maior é economia, por isso acompanha a atualização de domínios relacionados ao assunto durante o trabalho. “As notícias são dinâmicas. É muito melhor ler na internet”, afirma. Costuma entrar esporadicamente em blogs de entretenimento para a leitura de críticas e opiniões, mas prefere os livros de papel: “Os romances e obras podem servir como fonte de pesquisa. Tu te apegas, pode riscar e fazer anotações”. Ele ainda não se adaptou à possibilidade de ter todos os livros que imagina, compactados em um só espaço.
Como Carneiro, boa parte da população brasileira desconhece o Kindler. A nova criação tecnológica da Amazon e do CEO e fundador Jeff Bezos é um dispositivo com menos de 300 gramas, com conexão wireless, onde é possível armazenar mais de 88 mil títulos de livros e receber diariamente jornais. Apesar de não estar disponível no Brasil, faz grande sucesso. A nova versão, lançada em fevereiro, esgotou em 5 horas no site da Amazon.
Luis Antônio de Assis Brasil, escritor gaúcho, possui o aparelho. “Descartei muitos livros da minha biblioteca que agora posso ter em meios digitais”, conta. Ele enxerga o processo de inclusão digital com muita naturalidade. “As pessoas têm a ideia equivocada de que o livro impresso sempre existiu. Ele tem menos de 500 anos”, explica. E projeta: “A transição do livro no formato do papel pro meio digital é um processo em que as pessoas vão se acostumar, no futuro nós teremos apenas um meio digital. O livro está muito além do seu suporte físico”.
O debate sobre o fim dos jornais de papel é recorrente. Já o do fim dos livros começa a entrar em pauta. Assim como para Assis Brasil, Jorge Carneiro enxerga a mudança como um processo normal. “O Ipod está substituindo o CD, mas quem gosta mesmo, ainda compra o disco de vinil. Pode ser que isto aconteça com os livros também”, fala. Sua previsão, de certa forma, pode não estar errada. O tema recorrente do aquecimento global força governantes e pessoas comuns a mudarem seus hábitos. Dentre as ações que garantem um futuro sustentável, a substituição dos livros impressos está entre elas, já que para a fabricação de folhas é necessário cortar árvores. “Há todo um esquema por trás. O livro de papel agride a natureza”, completa Assis Brasil.
A criação de um novo gênero literário
A internet possibilita não só a venda de livros online, mas também o surgimento de novas formas de expressão e autores. David Coimbra, jornalista da Zero Hora, é um destes casos. Apaixonado pelas palavras desde criança, sempre teve a certeza que iria trabalhar com a escrita: “Sou jornalista para escrever”, conta. Quando teve a oportunidade de ter um blog e publicar seus textos de opinião, acabou por perceber que poderia também postar romances, contos e folhetins de sua autoria. Sua ideia deu certo. Seu blog é um dos mais acessados no site da Zero Hora e recebe muitos comentários de leitores assíduos.
Coimbra já publicou um livro impresso com contos criados apenas para o seu blog, embora os leitores procurem mais os textos na forma online. Ele vê a internet como um importante meio de propaganda da cultura. Muitas das pessoas que acessam não possuem o costume de ler livros. Com uma faixa etária jovem, acabam lendo longos romances sem se dar conta. “As pessoas reclamam quando escrevo apenas 50 linhas. Tu nunca vai imaginar que um leitor de internet, que lê pouco, vai ler 50 linhas e reclamar”, surpreende-se o jornalista. Suas novelas são postadas de pouco em pouco, para criar um suspense e chamar o público ao acesso. Além dos textos, o espaço de Coimbra na internet tem também vídeos. Trata-se de curtas em que o jornalista conta histórias engraçadas e bizarras. A interatividade é a característica mais marcante no mundo digital, onde se tem a possibilidade de misturar imagens, textos, vídeos e áudio. Cria-se a partir disto um novo tipo de literatura, em que se ultrapassa os limites da folha e das letras.
Quando questionado sobre o surgimento de um novo gênero literário, o narrativo digital, Assis Brasil contesta. Vê os hipertextos e links da internet como maneiras de substituir os pés de páginas dos livros. “Pode existir uma maior liberdade experimental, que é oferecida na internet, mas não um novo gênero. Os gêneros são os mesmos, o que muda é o suporte”, diz convicto. Já Coimbra acredita que poderia ser criado na internet algo diferente, uma maneira de expor textos em linguagens diferentes, e sintetiza: “É possível, sim, que as narrativas digitais se tornem um novo gênero”.

Um comentário:
É uma pena o Kindle não pegar pelo Brasil, pois antes de falarmos de inclusão digital, precisamos pensar na inclusão literária.
No Brasil, pouco se lê e isto deixa sérias sequelas no desenvolvimento social.
Ótimo post, parabéns!!!
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